quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Viver no Irã


Se pudesse escolher, não teria saído do país, explicou Fahrad
Arjmandi Hossein Abadi, que ganhando um bom salário como mecânico, equilibrava sua tragetória em terras iranianas. Mas a opressão se intensificava e o país estava a beira de uma revolução nos anos 70. Entre os fatores que ocasionaram tal revolta estavam a rápida ocidentalização da clásse média, e corrupção desmedida, característica de super-faturamentos e desníveis sociais. Tudo isso junto à uma opressão sufocante, que culminou na revolução islâmica em 1979, com a tomada do poder por Aiatolás, tirando do poder o Xá Reza Pahlevi, para Ruhollah Khomeini.



Antes mesmo da revolução milhares de pessoas saiam do país como refugiados, algo que se intensificou após a revolução.


Embora o novo regime teve em seus alicerces a promessa de melhorias, igualdade e justiça, continuou deixando marcas de violência entre aqueles de pensamento livre, sobretudo abriu as portas para a discriminação para com judeus, cristãos, zoroastrianos e bahá'ís, ou qualquer religião que não o Islã. A maior minoria religiosa, seguidores da Fé Bahá'í, contando cerca de trezentos mil adeptos, era a única oficialmente não-reconhecida pelo Estado como uma religião.


Com seus 22 anos, Fahrad foi chamado para servir no exército durante a guerra Irã-Iraque (1980-1988), mas não aceitou. "Não podíamos estudar na faculdade, mas queriam que servíssemos o exército", queixou-se Fahrad, e por ser um membro da Fé Bahá'í, não podia entrar na faculdade.


Mesmo contra sua vontade, decidiu deixar o país, juntando-se àqueles mais de mil refugiados no Paquistão sob assistência da Cruz Vermelha - entidade da Organização das Nações Unidas (ONU). A maioria mudava-se para Austrália, Canadá, Estados Unidos ou Índia, ou onde haviam famílias ou conhecidos.


Fahrad optou por morar no Brasil, onde está há mais de 15 anos. "A liberdade aqui não tem comparação, vocês vivem no paraíso, não sabem o valor que isso tem. É um presente de Deus para vocês", expressou.

Antes da revolução, Yari Gassem, também iraniano, era general do exército. Prestou serviços filantrópicos e deu palestras em várias cidades. Ficou sabendo de muitos colegas de exército que foram presos e julgados por suas crenças religosas. “Planejaram me matar”, relatou Yari. “Todos ficaram contra mim, porque os sacerdotes disseram para os militares que eu era espião”.

Yari teve ajuda de seus colegas para deixar o exército em segurança, sem ter de enfrentar cinco ou dez meses de julgamento, como outros haviam passado. Aposentou-se e então se mudou de Shiráz para Teerã, onde continuou dando palestras e viajando pelo país, atraindo atenção dos jovens. “O governo quer o povo ignorante, pois assim podem realizar suas ideias”. Ficou 25 anos como oficial, e conseguiu aposentar-se apenas seis meses antes de se tornar coronel, mas não poderia continuar. Yari optou por se mudar para Peru a fim de continuar servindo a sua religião como fazia antes, sendo um militar no Irã. Esperou mais um ano, e seu novo objetivo era o Brasil.

Yari Gassem mudou-se para Campo Grande e diz que o país é muito rico por natureza, pois é raro encontrar um lugar onde pode-se plantar e colher em qualquer época do ano. "A maior riqueza de qualquer país são as 'cabeças', a sabedoria do povo. Os países que investem na educação, e que obtém conhecimento de outros países são os que mais se desenvolvem."


Behrooz Tolooi era criança quando deixou o Irã, mas se lembra dos dias frios de inverno em Teerã, cidade onde nasceu. Da rotina de ir para a escola, com as ruas cobertas de neve. “Adorava ver os homens em cima de casas retirando as camadas de neve que se acumulavam nos telhados.” Visitava seu tio em uma cidade próxima chamada Yazd, e animava-se ao vê-lo cuidar de pequenas plantações de melancia e melão na chácara. “Nesta época o Irã era governado pelo Xá e havia até um certo ponto de liberdade quanto ao vestuário e liberdade religiosa.” Procurou inúmeros médicos devido a problemas de saúde, até que um deles havia dito que um lugar de clima tropical ou subtropical ajudaria a melhorar seu problema. Foi morar na Índia com uma de suas irmãs em 1973, o médico estava certo.

Behrooz Tolooi, que hoje vive em Dourados, a 224 km de Campo Grande, está no Brasil desde 1979, e não se imagina vivendo em outro lugar. “Amo este país por diversas razões, entre as quais posso destacar a diversidade racial, as belezas naturais e um povo amável”. Se tivesse condições iria rever seus parentes espalhados pelo mundo, como irmãos, primos, sobrinhos. "Mas hoje em dia com o 'Skype' e outros meios de comunicação, esta saudade é diminuida."

Nenhum povo gosta ou aceita a opressão e a intolerância, e tal relação apenas se desgasta com o tempo. O Irã, parte da antiga civilização Persa remonta mais de sete mil anos de história, e por isso possui riquezas que poucos ocidentais tem conhecimento. Muitos jovens, em países fechados como o Irã, por terem acesso a novas tecnologias e terem conhecimento do que acontece no mundo, frequentemente levantam a voz em defesa da justiça e equidade. Embora seus principais meios são recursos proibidos ou restritos como Blogs, ou Redes Sociais. Sabe-se que a maior parte deles acredita que seu país tem um grande potencial e muito para oferecer à humanidade.